10 de abr. de 2018

CARTAS ABERTAS AO DESEJO, um

Proponho aqui um ponto, e não é de partida: um ponto conectivo pra gente pensar aquilo que nos une a criar novos acontecimentos em dança; para olhar o movimento que se cria entre as nossas vontades,  para perceber a forma da rede que se faz quando estamos a compor.

A provocação surge da Renata Leoni, curadora este ano do XII SEMINÁRIO DE DANÇA no Festival de Dança de Joinville, e vem de mãos dadas com a Ana Mundim, baita artista e pensadora da dança. Estamos, Ana e eu, conversando há um tempo sobre nossas vivências em rede via skype (já que estou em Campo Grande e Ana em Fortaleza), a fim de criarmos uma experiência que ponha o tema em diálogo. Decidimos compartilhar e desenvolver por outros meios estas conversas, para não deixarmos pra trás o que já refletimos, e abrir alas para o corpo entrar.

Ana propôs uma troca de cartas. Achei confortável essa proposta, então eu vou aqui me dirigir à ela, mas é com você também que estou falando, certo? Podemos ficar à vontade.

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Ana,

Começar parece sempre mais difícil: um carro, pra sair do lugar, gasta mais combustível do que quando está em uma velocidade estável, certo? Pensando aqui na minha vida, tem uma coisa que se repete com frequência, que é uma resistência a comparecer às rodas de danças circulares. Eu protelo, esqueço, fico com preguiça, afirmo que não quero... mas quando chego lá, dou o primeiro passo e entro no fluxo, não quero sair nunca mais - e me condeno por ter demorado a voltar.

Por um bocado de tempo eu pensei que o gasto de energia com o ato de me conectar com outras pessoas fosse um esforço maior do que decidir sozinha as coisas e demandar. Uma pequena espiada no clássico gráfico proposto pelo Paul Baran sobre as possibilidades de conexão, já indica que a distribuída (o que chamamos de rede), abre muito mais possibilidades de criação, além de caminhos mais curtos e mais diversos de conexão. Adoro isso do design conseguir fazer a gente entender as coisas melhor.



Eu descobri a criação em rede antes da sua teoria. Éramos,  aqui no Corpomancia, artistas da dança com um caminho como intérpretes, mas inexperientes em criação, e decidimos nos juntar a dar corpo às nossas ideias. Hoje vejo que aquela paridade das nossas experiências junto ao ânimo aflorado para a produção permitiu um ambiente mais favorável pra que a nossa rede funcionasse com eficiência: como no gráfico C, todo ideal na sua representação.

No decorrer do tempo, a prática foi parecendo menos geométrica.

As diferenças iam  ficando mais ou menos importantes que as nossas semelhanças, novas conexões aparecendo, conexões se rompendo, conexões se aglomerando,  formas diferentes de conexões, novos elementos surgindo... ufa. Com todo respeito ao graaande Paul Baran, que fez uma síntese importantíssima e bem didática em seu gráfico, vou propor aqui a partir de um desenho meu, um gráfico que chega mais perto do que a minha experiência com rede se transformou.




Repare que há diferentes formas nas conexões, aglomerados, espaços em branco, formas circulares que se fecham em si, mas permanecem conectadas por contato (pensei outro dia que essas podiam ser as representações das selfies, rsrs). Enfim, uma forma mais orgânica e também mais artística para representar também as falhas, e dúvidas, e tentativas das conexões.

Pra começar, é isso. Nossos pensamentos se conectaram em alguma dessas linhas?

p.


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