19 de jun. de 2017

Mais de SEM CERIMÔNIA - EM RESIDÊNCIA. Um relatório perceptível.

De 'Me=Morar' a 'Sem cerimônia - versão 2017', de coletivo ao conectivo, de Campo Grande, passando por Rondonópolis, Cuiabá, Aparecida de Goiânia e Goiânia, o que me é revelado é o espelho vivo das nossas carências. Digo quanto Fran, quanto 'ser cidade', no enfrentamento destes abandonos - dos nossos e dos outros - em pontos menores (esquinas, postes) até maiores (antiga estação ferroviária de Goiânia, no centro da cidade, completamente abandonada). 
Quando escolhemos ser conectivo, no lugar de coletivo, olhamos pro aspecto da criação horizontal que é dura, trabalhosa porque a tolerância é a matéria-prima para criar. Isso quer dizer que engloba argumento, ego, desejo, dúvida, consenso, agonia de frente pra gente, já que nos tornamos espelhos, nos vemos e refletimos (no sentido de projetar) o tempo todo. E é isso que queremos e não reclamo. Este jeito de trabalhar acaba criando um campo muito fértil para compor a dança que queremos fazer.
Sendo assim, o 'Sem cerimônia' se tornou um tiro de improviso, uma espécie de "papel em branco, que desenha e se modifica em tempo real. O negócio agora é sobre como lidamos com "isso" tudo. "Isso" é real, é a rua, é cidade e poderia ser em qualquer lugar - "ser-cidade", "ser-escola", "ser-monumento", "ser-rua", "ser-fluxo", "ser". Na hora, bate coragem com a covardia, bate vontade e cansaço, bate sol, bate sede, nojo, as vezes medo, bate desejo e aí bate bastante resistência.





Além da rua, escolhemos também "ser" grandes histórias de abandono. Primeiro no Casario de Rondonópolis, hoje adotado por artistas e comerciantes da região, que fizeram do lugar um espaço simples - de encontros, bons petiscos e arte... Lindo!
Depois a Antiga estação ferroviária de Goiânia que, ao avesso do Casario, representa hoje um lugar negado = um esforço para esquecer a sua existência. 
A nossa resistência, reafirmada anteriormente com as intervenções de rua, virou teimosia e ocupamos por 4 dias o lado 'de fora' da estação, contra todas as previsões de impossibilidade de realização da ação.


Henrique trabalhando na ocupação. Repare o morador de rua no fundo.


4 dias mesmo não tendo se quer banheiro, água e uma secretaria de cultura que nos recusou qualquer suporte. Por fim, nos vimos de preto, no fim da circulação, velando a história dos outros. Fomos estrangeiros tentando fazer parte.




Um grande redemoinho na estação e mesmo sendo no centro da cidade, a sensação de só nós termos visto

E aí, em conseqüência desta vivência, lá vem do novo aquele grito de "ser - é ser político" com a lembrança da nossa casa (Campo Grande/MS),  que tem a antiga rodoviária e o centro de belas artes também abandonado - lugares que nos esforçamos para esquecer. Somos parecidos e abandonamos também, da mesma forma que somos abandonados.
E seguimos por vezes escolhendo o caos, o vácuo e na resistência, produzimos.


Escrito por Franciella Cavalheri - Conectivo Corpomancia.










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