28 de set. de 2007

A dança jogada a sério, por Ricardo Pieretti

Rolam os dados e seus números definem as partes do corpo a serem utilizadas. Tira-se a carta e esta define o movimento que pode ser feito. O sorteio dá a música. O jogador tem que respeitar a sorte, dançar com o que ela determina e encantar a platéia atenta. Este é o “Corpomancia”, jogo-espetáculo desenvolvido pela bailarina Paula Bueno, que reúne improviso e surpresa na criação imediata da dança a ser apresentada.

A beleza desta solução artística para a demonstração das várias técnicas e modalidades da dança contemporânea se estabelece em diversas faces. A apresentação, por exemplo, se adapta a qualquer ambiente e a cada jogo é uma nova experiência e um espetáculo distinto. Mas, em todas as suas possibilidades, o “Corpomancia” é, sobretudo, uma bela metáfora da vida.
Os jogadores-bailarinos podem ser um, dois ou muitos. Quando é apresentado apenas por um, o jogo traz uma série de reflexões sobre tempo, espaço e solidão. O bailarino enfrenta sozinho as adversidades que poderiam ser as nossas próprias. Quando são dois os componentes, é armado um duelo e o público fica diante de um paralelo das relações humanas. Por fim, na apresentação de vários jogadores fica evidente a simulação da disputa no sistema capitalista em que vivemos.

Além de todo o conceito que paira no jogo-espetáculo, também é ponto forte da apresentação a graça e a competência das bailarinas, lideradas pela própria Paula Bueno e que trazem a experiência do profissionalismo dos filhos do Ginga Companhia de Dança. O “Corpomancia” é uma obra para o espectador pensar, refletir, se emocionar e se deslumbrar.

19/02/2008

* Ricardo Pieretti Câmara é jornalista, produtor
cultural, presidente da Fundação Nelito Câmara e
Coordenador do Festival de Verão de Ivinhema

Nenhum comentário:

Postar um comentário