3 de mai. de 2005

BRAVO! Sobre exposição "O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira"

"... a arte contemporânea enfim alcançou nos últimos 30 anos o estado a que a ciência contemporânea chegou no começo do século 20, ocupando-se agora mais com as relações entre as coisas do que com as coisas em si: mais com as relações entre os objetos de arte do que com esses objetos em si. Estes, primeiro perderam sua condição de “bem-feitos”; depois, sua especificidade artística (qualquer objeto pode ser de arte) e finalmente, atalhando, se “desmaterializaram”, como se diz. Sobraram as relações entre eles. Já que o objeto não mais significa esteticamente em si e por si, para significar, pode entrar em relação com muita coisa em variados contextos. A foto de um braço num degrau de escada pode estar nesta mostra sobre o corpo e em outra sobre, digamos, a escada (Duchamp, Cildo, etc). Tudo vale.

Em princípio, tudo bem. Mas depois de algum tempo, tanta indistinção e labilidade cansam. As curadorias talvez ganhassem se fossem mais focadas. E os artistas também se, de vez em quando, dissessem: não, nessa mostra não, minha arte é de outra parte. Mas muitos apenas sorriem diante do curador e dizem: assim é se lhe parece.

A questão mais específica a esta mostra desdobra-se em duas: 1) O que é corpo, afinal? A maleta 007 com pregos no interior; um vestido; arte do corpo, arte com o corpo? Se forem, tudo é corpo, então nada é; 2) O que é arte para esta exposição?, pergunta motivada pelo vídeo com Lygia Clark e os gadgets sensoriais para passar no corpo de seus pacientes e com isso “tratá-los”: arte é terapia, aqueles gadgets são arte? Se sim, a psicanálise e o rolinho japonês que passo no pé também. Uma exposição que faz pensar..."

Por Teixeira Coelho
Revista BRAVO! n°92 ano 8 (maio de 2005)
sobre "O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira" exposição no Itaú Cultural

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