31 de ago. de 2009

:: as estrelas do cruzeiro fazem um sinal

Eu cheguei atrasada ao nosso encontro, foi. Desculpa. A gente foi andar pela rua juntos e assuntar com o povo da vila, foi muito bom. A gente vai falar de memória, então fomos ouvir um pouco da memória dos ferroviários que moram na vila: a gente foi só começar a ouvir, a cheirar, a tocar, dizer um oi, estamos aqui. E conseguimos.

E é lógico que nisso tudo a gente vai passar pela nossa memória também, e foi que e a minha explodiu quando tava sentada no chão da rua e vi chegando perto um cara bem familiar, na verdade ele foi o cara pra mim, por muito tempo, eu não podia parar de olhar. Por ele eu passei muitas horas da minha infância dançando sozinha, quando eu morei numa casa sem gente por perto - eu sonhava em dançar com ele na viola, do lado. O cara era o Almir Sater e eu tinha cá comigo o meu fascínio pelo mistério que vinha dele e aquele som, era um troço forte, que eu não entendia.

Daí eu percebi (agora na prática) que a memória não é alguma coisa que a gente para pra lembrar. Ela está na gente e pronto, vem com a vida correndo e com o cara passando do seu lado ao mesmo tempo que você se vê pensando: o que eu devo fazer?

Tem também que a minha memória mais antiga (hehe, o pessoal do corpomancia tá muito, muito cansado de ouvir essa história) é dentro do trem do pantanal... eu e meu irmão chupando laranja do lado da minha mãe e jogando o bagaço pro jacaré, no rio. Tinha uma beliche do lado da janela e depois o trem quebrou, já tava anoitecendo, o meu pai de pé conversando fazia a postura girando o quadril pra frente igual ao que eu faço hoje e todo mundo diz "endireita, paula!".

Pra terminar, vou postar aqui o vídeo do Festival da América do Sul do ano passado, do jogo Corpomancia, que o Werther puxou com a sua voz linda, cantando Trem do Pantanal, aquela que eu conheci pela voz do Almir e passava o meu tempo sonhando, porque fazia sentido pra mim. Este novo espetáculo não tem nada a ver com o jogo, que fique explicado. Mas tem a ver com cada um de nós, ainda, e não tinha como não ser. Teria?

Um comentário:

  1. cara..esse mundo tá ficando muito sincrônico! Qué isso!
    Ontem nos encontramos indo para a casa no mesmo horário (atrasados rsrs), hoje a aproximação vai dando certo, e surge do nada um ícone da expressão artística bem peculiar do nosso estado, que canta a saudade de um trem caminho ao pantanal.
    Esses carrilhos estão no caminho certo..

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