27 de fev. de 2015

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(Ou: Que idade eu tinha quando nasci?)

Atingida por meio milhão de raios cósmicos por dia eu ainda penso na pergunta: que idade tinha quando nasci? Uma pergunta imbecil que num desses momentos perdidos na memória ecoou como um mantra: plena de sentido e sem sentido algum. Volta e meia ela me sopra a dúvida sobre essa pré-existência, sobre tudo que tem de informação no meu sangue e que não consigo decifrar com a mente agarrada às palavras. É certo que depois de tantas rajadas radioativas do sol sob esse corpo (que me veste), um dia ele definhará. A linha reta do tempo talvez seja uma espiral vertiginosa e os corpos morram com o objetivo de ceder átomos pra respiração de outra vida, outra coisa. Deixaria, então, a carcaça pra futuros pesquisadores debulharem teorias sobre a existência no passado. Com suas pinças e conhecimentos de isótopos radioativos poderiam precisar a idade que eu tinha quando morri. Certamente não definiriam a emoção que senti ao ver pela primeira vez um cavalo. Ou que tive em vida uma predileção por folhas verdes escuras. Ou ainda que idade tinha quando nasci. Mas eles saberiam quanto tempo passou por mim. O engraçado disso tudo, também o mais misterioso é isso que nos atravessa e que só nossas relações particulares com as escolhas e o tempo, com o all around faz ferver: sentimentos atávicos - àqueles que me ligam biologicamente ao alienígena mais antigo da galáxia, ao mamute, à primeira criatura unicelular. Isso mesmo! Não é estranho se ver em um edifício da bolsa de valores sentindo-se uma fera?! Por atavismo ou por algo maior que todos nós. Pela vibração desses átomos todos juntos. Enfim, teria quando nasci a idade da Terra. A data aproximada de tudo que borbulha nesse caldo. E isso nenhum cientista pode até hoje prever, já que provar, experimentar, vivenciar essa sensação maluca que nos liga... Isso todos provamos.

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