2 de out. de 2012

Outras Danças: dias 1 e 2

São 6 horas de trabalhos diários, das 13 às 19h e começamos com uma grande conversa.  Cada um pode relatar um pouco da sua vivência/experiência e a "questão" que está investigando ou gostaria de investigar nesta residência. A preocupação inicial é com o compromisso de ter de "apresentar" algo na Mostra de Solos e Duos ao final da residência. E não temos nada muito determinado. Aliás, a ordem tem sido lassaiz faire, lassiz passeur (deixai  fazer, deixai passar). De cara então, foi isso. O Luiz é bem tranquilo e deixa a decisão do modo de proceder a combinar, a cada dia. Ouvindo todos em suas proposições a gente se conecta com o história de dança de cada um. As vezes se estabelecem diálogos. Somos 12. Somente 4 são de Porto Alegre. Os demais vieram de São Paulo (2), Minas/Rio de Janeiro (1), Fortaleza (2), Bahia (1), Floripa/Joinville (1) e eu de Campo Grande. No café da manha de hoje conversei com a Adriana (Uruguai), a propositora da outra residência. Gostei muito dela também. Depois de uma longa conversa no café fomos para o almoço, que tem que ser cedo por causa do início dos trabalhos da tarde.
Hoje, dia 2, iniciamos com as definições do dia. Alguém sugeriu que experimentássemos estabelecer no nosso espaço/tempo um universo paralelo, onde as investigações acontecessem. Estamos ainda nessa elaboração mas a prática de hoje foi por meio de uma outra proposição: da leitura da Teoria da Deriva de Guy Debord, um texto de 1958 sobre uma ideia de psicogeografia e da experimentação dessa deriva. Parti então pela cidade (sozinha) com algumas regras a cumprir: percorrer um trajeto andando, sem tempo determinado, encontrar pessoas de roupa vermelha e segui-las por um tempo e depois fotografá-las, sentar 5 vezes em qualquer lugar e observar e relatar algum acontecimento. Cada grupo (de 3 pessoas) elaborou suas próprias regras a saiu a campo. Uns de ônibus, outros a pé, outros de trem, de táxi, enfim. O Luiz está interessado nesse contexto da cidade e como não há ainda uma definição do modo de proceder, estamos nos contaminando desse lugar pra poder sentir o que essa experiência pode contribuir para os trabalhos individuais. Me senti bem afetada pelo dia de hoje. Saí do local da oficina com as regras para cumprir e nem sequer sabia como voltar para o hotel. Tomei consciência de que tenho dificuldade de sair por aí, sem destino, senti um certo medo e a vontade de encerrar logo a minha tarefa. Mas vamos lá, o propósito é desestabilizar hábitos, não é?

Palavras do dia: psicogeografia, universo paralelo, deriva, adestramento, interrupção, arquitetura vernacular, situacionistas, flaneur

Pra quem se interessou eis aqui Teoria da Deriva
http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio/Apoio/Apoio_Fani/flg0560/2010/Teoria_da_Deriva.pdf

2 comentários:

  1. que rico... me veio esse pensamento de que estamos sempre em negociaçao com a vida: se controlamos ela ou se ela nos conduz... como uma queda de braço, mas se mudarmos a perspectiva, entao estaremos de maos dadas.. meio brega, mas foi o que eu pensei sobre isso, porque até mesmo na tentativa da deriva colocamos regras - e as regras sempre existem de certa forma.. :)

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  2. Que legal, Renata! Muito bom acompanhar alguns momentos da sua residência.

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