8 de fev. de 2012

:: Jogo Corpomancia no projeto Dançando na Escola, em Fortaleza-CE





Em meados deste mês de janeiro estivemos em Fortaleza para apresentarmos o jogo Corpomancia aos professores do programa Dançando na Escola, um projeto de inciativa da Prefeitura da capital cearense, numa parceria entre as secretarias de Educação e Cultura do município. O projeto é dirigido por Cláudia Pires e a nossa experiência durou 4 dias, em 16h/aula, com a presença de 20 professores do programa. Foi realizada por duas integrantes deste conectivo (Paula Bueno e Renata Leoni) e participação em dois dias de Christiane Araújo, professora da UEMS, que convidamos por sua experiência na educação em dança e pela oportunidade de conhecermos o seu trabalho.


Estávamos ali enquanto artistas, criadoras e experimentadoras de um jogo a partir de estudos de Rudolf Laban - este cara que muita gente conhece, mas que tem menos "amigos" do que merece - apresentando uma ferramenta possível para os professores usarem em sala de aula, e mais do que isso, pensando com eles a possibilidade da criação de novas ferramentas para as aulas de dança.


Os professores do programa têm formações diversas: jazz, dança de salão, dança de rua, dança contemporânea.. Ora, Laban contribuiu para inaugurar a dança moderna, mas a presença dele é maior do que esta: a sua pesquisa do movimento humano nos permite chegar a todos esses estilos, ou melhor, permite que esses professores possam ter mais possibilidades de trabalho dentro daquilo que já desenvolvem. Foi esse o nosso estímulo, e a colaboração dos "estimulados" reinou com novas pertinências durante o período em que estivemos juntos. 


A partir de uma proposta da Christiane Araújo instaurou-se um debate: é possível realizar um movimento "direto"? "Direto" é a intenção de quem propõe o movimento ou a forma no espaço que o corpo produz?? Engraçado que a noção de movimento direto e indireto é simples do ponto de vista de quem imagina, mas o movimento traz e trouxe para a experiência complexidades que não foram resolvidas com um martelo, mas debatidas e exercitadas pelo grupo inteiro, em busca de pontos de vista. O fato de estarmos em 3 figuras de "proponentes" ou "provocadoras" (a prof. doutora Ana Mundim coloca que o professor na contemporaneidade é mais um provocador), desencadeou uma forma de desentendimento saudável ao debate. Debate prático também: no dia seguinte, cada professor levou sua proposta de experimentação de movimento direto e indireto (ou multifocado) - todas vivenciadas e aprovadas pelo grupo. 


Não paramos por aí. Renata Leoni propôs uma caminhada em que eles se percebessem tocando o chão. Logo depois, inverteu a proposta, pedindo que percebessem durante a caminhada o chão tocando seus corpos. O debate desta vez nos guiou a questionamentos sobre a "dança contemporânea", inaugurado por uma "jazzarina" temerosa em perguntar obviedades: na dança contemporânea, pra quê tanta experimentação? onde isso nos leva? Ainda sem nenhum martelo, debatemos a pergunta essencial (e não óbvia) a ultrapassar o horário das dez da noite de uma sexta-feira (são santos, os cearenses). Prometemos começar o sábado de manhã com o vídeo "Ginga Documenta: cultura bovina em trânsito", documentário que aborda a construção de um espetáculo dentro da linguagem contemporânea, e coloca as diferentes visões do público que o assistiu, em variadas cidades brasileiras. Mais uma vez, o estímulo deu cordas para um entendimento multifocado.


Os jogos do Corpomancia conduzidos por Paula Bueno revelaram um aprimoramento dos professores na compreensão dos fatores de movimento propostos por Laban no decorrer dos encontros: os professores produziram experimentos, cenas, movimentos, composições e questionamentos, revelando que os estudos propostos pelo pesquisador ainda não se esgotaram, mesmo passados mais de 50 anos da sua morte. Os depoimentos revelaram um novo grupo de "amigas do Laban", como elas mesmas se classificaram, o que nos causou empatia, já que também não fomos simpáticas à pesquisa de Laban em um primeiro momento, mas logo que entramos na experiência do movimento, fizemos as pazes com o pesquisador.  


Percebemos que talvez, os 3.407km que distancia Fortaleza da nossa cidade Campo Grande tenha feito diferença na hora de abordar alguns temas, simplesmente porque não havia um pré-julgamento de quem éramos, de ambas as partes, e o anonimato de certa forma potencializou a troca. Pudemos exercitar a fala, o pensamento, o movimento, a dúvida (a dúvida!). Conversando com Cláudia Pires, a coordenadora deste grupo tão diverso e ao mesmo tempo disposto, vimos que a experiência gerou resultados positivos no ânimo do projeto. Entre nós, mais uma chance de nos descobrirmos provocadoras de uma criatura que no fim das contas, nos transforma. 

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