23 de nov. de 2009

a-tensão


Há duas semanas da estreia do espetáculo a adrenalina já toma conta da pele, dos órgãos internos, da respiração..
Vinha sendo assim há bastante tempo já, mas agora os pensamentos, discussões, conceitos, sonhos, imaginações, estão tomando corpo na casa e nos corpos em movimentos que dançam e participam da produção (segurando escada, subindo no forro, descobrindo fantasmas, pendurando molduras, pintando, discutindo, saindo de carro pra comprar materiais, objetos, indo ao banco sacar dinheiro...)
Num desses dias de “desespero” (criação pra mim é sempre uma coisa dolorosa, já tentei encarar de outra forma, mas a dor sempre retorna) uma luz, literalmente, me fez acreditar nessas coincidências de tempo/espaço novamente.
Vinha tendo vontade de acender uma vela antes de começar a ensaiar a cena 1 e a cena 2 e dessa vez (na sexta passada) decidi apagar todas as luzes (eram umas 11h da noite) e só a vela iluminava o ambiente. Me coloquei em volta dela, com olhos fechados pra tentar diluir lembranças recentes e acender o sentido das cenas.
O movimento da chama começou a chamar a atenção dos meus olhos fechados. Quando abri vi exatamente o movimento que estava tentando executar no final da primeira cena. O fogo parecia denso como nuvem, que é mais visão do que tato. Sempre tive vontade de encostar em nuvens.
Passei vários minutos observando a vela acender e queimar. Por fora vigorosa, por dentro curva, definhando. Sua condição de existir enquanto objeto que ilumina parecia ser a de deixar de existir aos poucos.
Esse é o movimento que quero estar fazendo no final da primeira cena. Quem o vir, fica a dica da comparação.

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