29 de nov. de 2009
:: me=morar ::
Começamos sem saber exatamente sobre o que falar, sabíamos que deveria ser dito em uma casa. A que nos acolheu estava na vila, a dos ferroviários. As experimentações se iniciaram pelos sentidos do corpo. Acurando a percepção de cada um deles, fazendo analogias com sensações e imagens corporais, movimentos foram acontecendo e a exploração do espaço da casa também. Não havia como negar a carga histórica, a ativação do ima-ginário de passado e antigo que aquele local nos oferecia. Resolvemos mergulhar.
Lá pelas cinco da tarde, personagens começam a aparecer. A varanda fica na calçada da rua. Em cadeiras de fios ou madeira, tomando te-reré ou chimarrão, acenando para os que passam de carro ou à pé, o papo rola solto, disso os documentos oficiais abrem mão. Ali encontramos o guia que nos levou a ruínas de prédios amplos. Telhas quebradas no chão, ausências no telhado, trepadeiras no concreto, porta solitária com dizeres de “prontidão”. O lugar era mensagem e nós também.
Ter atuado no jogo-espetáculo foi determinante para, durante o processo, conseguirmos planejar estruturas abertas ao acaso, abrir mão de ideias, defender outras, assumir perdas e ganhos de uma criação coletiva.
Daí o conceito de memória enquanto ativadora de lembranças fazer tanto sentido: o sensorial é presente, como a presença e disponibilidade incríveis de toda a equipe (criação de figurino, cenário, trilha sonora, produção, interpretação) aberta a diálogos, com criações que flutuam no desconhecido e abrem caminhos parecido com os trilhos logo atrás do quintal.
texto: Luiza Rosa
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