13 de fev. de 2015

Um percurso de Inocência, de Paula Bueno a Daniel Colin

Foi em 2007 quando ainda era intérprete criadora da Ginga Cia de Dança, que a Paula iniciou seus estudos sobre o Inocência. "O tema me encantou porque meu pai coleciona edições antigas deste livro. Comecei uma pesquisa, mas parei e o projeto não foi pra frente. Um ano depois, fiz uma videodança "Casulo" relacionada à ideia. Depois foi o "estudo para Inocência" por conta de uma matéria da pós-graduação em dança. Com o tempo, outras pessoas foram entrando, e a ideia do Inocência amadureceu bastante, como é em qualquer criação. Em 2011 eu e a Renata Leoni começamos as aulas de kung fu como preparação e algumas leituras e encontros".

A ideia de "traduzir" o livro para dança, com seus personagens e tudo mais foi totalmente descartada desde o princípio. O que a gente queria era encontrar a partir do livro, os temas relacionados à nossa vida pessoal e outros temas relacionados com as questões da vida das mulheres na época e que persistem ainda hoje. Vários assuntos foram surgindo e sendo relacionados o que resultou em abordagens relacionadas à física (teoria da relatividade), biologia (entomologia e endocrinologia), filosofia (maturidade, luta da mulher e vida plena) e kung fu (luta, kati da borboleta. No contexto do Kung-Fu, kati indica um encadeamento de movimentos).

A direção da criação e do espetáculo foi naturalmente sendo feita por Paula, que ficou grávida em 2011 e não pode dançar a sua primeira versão. Nesta altura, surgiu a Camila Emboava e a figura do meu filho, Guilherme. Camila trouxe para a cena sua inocência com relação à prática e experimentação com a dança contemporânea e Guilherme, passou a ser uma espécie de narrador que à medida que conta sobre o livro explica os temas levantados e abordados (de um jeito que a gente entenda!).


Em 2013, houve a primeira reformulação do espetáculo, com a saída do Guilherme e com a entrada da Paula, que passou também a dançar, além de continuar com a direção. Sua participação na cena trouxe mais consistência para a questão do corpo, porque é nele, no corpo, que se inaugura o desejo, motor da problemática do livro e da criação desta obra. Também em 2013, o trabalho ganhou um novo olhar externo: o do diretor de teatro Daniel Colin (RS), orientando, provocando e questionado as cenas.

Ensaio Inocência com Paula, Renata e Camila

O nome de Daniel Colin surgiu de um encontro que tivemos com ele em Campo Grande por ocasião de sua vinda aqui para uma apresentação de seu grupo, o Teatro Sarcáustico de Porto Alegre, com o espetáculo Breves Entrevistas com Homens Hediondos, do livro de contos homônimo do autor David Foster Wallace. A afinidade nos motivou a realizar ações em conjunto, unindo a experiência dele com teatro e a nossa experiência com a dança, ambos a partir da literatura. Daniel, em uma noite na feira central de Campo Grande, disse que um dia gostaria de dirigir um espetáculo de dança, daí logo veio o convite da gente!

Em 2014 o elenco mudou novamente com a saída da Camila Emboava e a entrada de Silvia Razuk. Esta mudança naturalmente gerou transformações no trabalho que está prestes a circular pela região Norte do país através do Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2013. 

O Daniel trabalhou com a gente, principalmente com as amarrações das cenas e com a "fala" da Camila e depois da Silvia, que passou a ser a narradora da trama e a acumular este papel além do da Inocência. O trabalho dele foi bem cuidadoso, respeitou a nossa criação e foi fazendo os ajustes necessários sem no entanto descaracterizar o que tínhamos feito e sem deixar de fazer as modificações necessárias. Mudamos texto, trocamos cenas, melhoramos a coreografia, tudo isso num clima de muita diversão e com o acompanhamento da Fran Cavalheri que foi sua assistente no processo e continuou com a gente depois que ele foi embora.

Agora em fevereiro partimos para a nossa circulação pela região norte do Brasil e esperamos que o Daniel possa estar com a gente, presencialmente, em algum momento. Já fizemos o convite. Se não puder ir, pelo menos já prometeu que vai fazer um texto dele sobre como foi a sua experiência conosco. Assunto para um próximo post.

Daniel Colin em Campo Grande - oficina Dramaturgia Cênica



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