Compreender a cultura instaura-se na experimentação cotidiana em caminhar, abrir o corpo para os discursos que levantam por assim dizer o nome cultura . O texto que segue não pretende dizer o que é cultura, mas indeterminar o já impossível e conflituoso.
Como podemos pensar cultura em Mato Grosso do Sul? No primeiro momento precisamos pensar o sentido de poder, alteridade e de crise.
Vivo num Estado segmentado por ondas discursivas de migrações, são poucos os nativos, ao mesmo tempo muito, são mais, ao mesmo tempo menos, aqueles que vieram de algum lugar distante. Sou meio brasileiro e meio paraguaio, no inicio não entendia isso, cheguei a me esconder deste duplo, mas agora o assumo ao mesmo tempo em que assumi caminhar. Como lembra Certeau (2005), o caminhar "é ter falta de lugar. É o processo indefinido de estar ausente e à procura de um próprio" (p.183).
Neste sentido a presença do discurso cultura se performa como falta e crise, inscrevendo no cotidiano, dizeres sobre o que é cultura, dizer regulado por posição de poder, que exige o olhar econômico, político e social, pois só existe a preocupação sobre cultura, quando existe poder.
E, a inter-relação entre crise e poder, revela muito do que se pensa sobre cultura no Estado do Mato Grosso do Sul, um lugar árido e com o chão nebuloso. A neblina institui-se pelas distorções construídas pelo movimento de colonização por um lado e migração por outro. Neblina que propõe uma estética que revela ser chão, um chão que se define como cultura entrecortada pelo poder, pelas vozes institucionalizadas e pelas vozes subalternas.
Pensar cultura é envolver-se pelo ideterminismo, e assumir que o caminhar cotidiano e as discussões sobre o que é e como se forma a cultura, se formam pela falta e pela crise, gestos discursivos que movimenta, produz, desregula e indaga.
Vivo num lugar onde as etnias indígenas estão a todo instante em alarme pela violência, e o signo regulado como nobre usa do imaginário como arma para manter sua estética, regulando por assim, o que é cultura, e muito do cotidiano, o que a maioria obedece com euforia.
No entanto a alteridade, não permite o disfarce, o não olhar para o Outro. Como lembra Lévinas "No encontro do rosto, não foi preciso julgar: o outro, o único não suporta julgamento, ele passa diretamente à minha frente, estou com obrigações de fidelidade para com ele" (2005, p.270). Fidelidade que se constrói como discurso latente, que encrava em cada corpo a responsabilidade sem fuga pelo e com o Outro.
O mesmo autor fala sobre a construção cotidiana de "homicídios invisíveis", quando acontece a constante negação pela concretude da fidelidade. E me parece que a cultura, se move neste constante encontro com o Outro, com a crise em não saber o que é, mas mesmo assim, caminhar.
Yan Chaparro
Campo Grande, MS.
2011
puts! que massa, yan.
ResponderExcluirgosto de caminhar de olhos abertos nesse percurso. mas são tantas direções que os olhos nunca alcançam. acho que é pra ser assim. a gente vai construindo o caminho, escolhendo as direções. e andar é esse movimento básico, o mais importante. lembrei da frase do Cunningham que a Re sempre cita:
"Dança pode ser sobre qualquer coisa, mas é primária e fundamentalmente sobre o corpo humano e os seus movimentos, a começar por andar..."
acho que dançar é um desgoverno do corpo. a cultura dança.
adorei as reflexões. um beijo!
Oi Yan,
ResponderExcluirO texto me ajudou sim. Tirei 10 no trabalho (hehehe)
bjo