vou falar de uma coisa um pouco constrangedora, mas acho que é por uma boa causa. ano passado o adriel, noivo da fran (intérprete do corpomancia) intrigado com a aparência de nossas pernas, nos fez alguns questionamentos sobre a retirada dos nossos pelos. no meio da sua fala, ele sugeriu que por fazermos depilação com frequência já deveríamos estar "acostumadas com a dor". foi daí que eu sugeri pra ele parar e repensar na formulação da expressão "acostumar com a dor". vamos lá: o fato de fazermos depilação com frequência não tira do ato de depilar o fator dor. ele não disse "não sentir mais dor", ele disse "se acostumar" com ela.
agora eu vou puxar um outro assunto, sobre o que é "contemporâneo". quantas vezes a gente não pára pra definir parâmetros para a arte contemporânea (e conseguimos até certo ponto), na tentativa de nos sentirmos seguros de que a nossa produção e o nosso pensamento fazem algum sentido dentro de um rumo que o mundo está caminhando? e não é aqui, neste tempo presente que chamamos de contemporaneidade, que nos demos conta de que as coisas (principalmente a ideia que fazemos das coisas, dos conceitos) se reconfiguram a todo momento? de que não existe um só conceito ou rumo, mas muitos? não somos nós quem temos que propor novas combinações deste sem-tamanho de informações que nos chegam? e como fazer do jeito certo? quem diz que é certo? que insegurança!
foi daí que eu reconfigurei meu pensamento e sugiro aqui uma espécie de metáfora: que esta insegurança que a contemporaneidade nos oferece funciona como a dor da depilação. assim como a dor não vai deixar de existir com o ato (mesmo frequente) da depilação, a insegurança na produção artística contemporânea tampouco vai deixar de assustar seus propositores (mesmo os mais veteranos). dor é dor; insegurança é insegurança. ela está aqui, presente! faz parte da natureza do que estamos propondo. não dá pra gente dizer que ela foi embora porque entendemos o que é arte contemporânea, mas dá pra aprendermos a lidar com ela, a nos acostumar com ela, de algum jeito - e não deixar de senti-la.
gostamos das pernas lisas hoje em dia, mas por que mesmo? tem gente que passa gilete nas pernas e quando o pelo cresce, incomoda mais ainda.. é como tapar o sol com a peneira. quem sabe alguém apareça com uma teoria a laser pra passar a limpo essa arte contemporânea...
Saudades dos seus textos paulinha!!!
ResponderExcluirEstou me acostumando com a dor....
beijos e mais uma vez parabéns
Tive a oportunidade de conviver com algumas pessoas da Patagônia, e por ela esta tal cera quente já foi ultrapassada. Acho que o encontro ser - natureza ainda anda debilitado entre nós.
ResponderExcluirpaz,