13 de ago. de 2008

:: Como é pisar uma concha no espaço?


Abordando a ausência e presença de gravidade no corpo, Isadora.ORB: a metáfora final, proporciona momentos de suspensão. Já na primeira cena, Andrea Jabor deitada com as pernas para o alto e sob o silêncio pleno da atmosfera do teatro Prosa, realiza movimentos de pêndulo que fazem com o que o público sinta a gravidade zero atuar sobre seus corpos. Nem um suspiro se ouve neste momento (que dura cerca de 5 minutos).

E não é apenas no silêncio que o espetáculo se desenrola. A trilha é composta por clássicos como Pink Floid e Mutantes e é manejada no palco pela bailarina e Dj Andrea Jabor. Além disso, os artistas interagem diretamente com o público, conversando e contando a “fantástica” história (ou fábula?) do menino Rick que sonha em levar artistas para o espaço.

Seu sonho quase vira realidade. Inesperadamente o então designer e pesquisador Ricardo Seabra (em 2000) tem seu projeto de criação de um módulo espacial para abrigar artistas no espaço (o módulo Isadora), para ser apresentado em um econtro mundial da NASA, no México. E daí por diante inicia-se uma extensa reflexão.

Uma reflexão que discute as fronteiras entre a arte e a ciência, a sabedoria do acaso e do domínio. A proposta de se explorar o espaço não apenas pelas ciências exatas e biológicas, mas também pelas humanas e pelas artes, segue uma linha política. Deseja-se o reconhecimento das áreas de conhecimento ainda vistas como perfumaria. “Como que vão investir $10 milhões de dólares para levar um artista ao espaço, se não há como prever o que ele vai trazer como produto artístico de lá?” A resposta segue infiltrando-se entre as armaduras da ciência - em tentativas de dominar certos aspectos da realidade - e o simples acaso.

Dentre projeções de desenhos criados por Rick em cena, através de seu retroprojetor analógico, solos interpretados por Andreia e a interação entre essas duas realidades, o espetáculo traz um cheiro e um conforto de infância, porque revela, na verdade, coisas simples: brincadeiras, jogos, medo da solidão e fantasias escondidas no cotidiano.

Depois de lidar com as forças gravitacionais ondulantes do palco, saí de meu assento pisando o chão sentido-o tão concreto quanto uma concha no espaço.

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